Indígenas na cidade: a (in)visibilidade dos povos originários
Você já se questionou por que para algumas pessoas parecem estranho pensar em indígenas na cidade? Alguns tratam essa questão como se fosse uma novidade indivíduos que pertencem a um povo ancestral estar em ambiente urbano. Pior ainda, há quem pense que eles não deveriam tampouco viver no meio da cidade.
Sabemos que nossa sociedade é preconceituosa e que vê os indígenas como um ser mitológico, e temos ciência de que alguns estereótipos e pensamentos preconceituosos vêm de muitos anos atrás atrelado a esse pensamento. Entretanto, isso não quer dizer que falas e atitudes que ferem a existência de tantos devem ser perpetuadas.
Para ajudá-lo a entender as questões relacionadas ao convívio dos povos originários com o espaço urbano, nós da Assindi preparamos um post que fala dos pontos mais importantes desse tema. Continue a leitura e confira cada um deles!
Indígenas na cidade e o pertencimento à população brasileira
Estimativas do IBGE apontam que mais de 300.000 integrantes de povos indígenas estão morando na área urbana. Mesmo assim, ainda é possível observar olhares de estranhamento ou rejeição de muitas pessoas. Isso acontece porque boa parte da população ainda pensa nos descendentes dos primeiros habitantes desse território como não pertencentes ao nosso país.
Ou seja, apesar de a sociedade ver os indígenas em nosso dia a dia, eles ainda não são enxergados de fato. Ignora-se esse esse povo com cultura tão rica, suas dores e seus direitos enquanto cidadãos brasileiros. Criamos uma visão que faz entendê-los como um ponto fora de nossa realidade, mesmo quando dividem conosco os mesmos espaços e são parte formadora de nossa cultura.
Confira nosso post sobre as heranças indígenas na cultura brasileira para aprender mais sobre como nossa rotina é repleta de costumes, alimentos e conhecimentos vindo desses povos!
Por que indígenas em contexto urbano são visto como algo estranho?
Existe uma falta de identificação do indígena como brasileiro e, principalmente, como cidadão que pode – e deve! – ocupar espaços urbanos – inclusive atuando em diferentes áreas. A parte não-indígena da população cresce entendendo que eles e os integrantes de grupos indígenas não são iguais, e por isso, não são do mesmo nível. Que bobagem, e que maldade.
Isso faz com que as pessoas achem que eles não deveriam estar no mesmo espaço que o restante dos cidadãos, realizando as mesmas atividades ou possuindo uma qualidade de vida semelhante.
Essa é uma construção social preconceituosa resultante do processo de colonização. Desde a chegada de povos estrangeiros em terras brasileiras, e a população que já estava aqui (os indígenas) foi tratada como inferior. Com o passar dos anos essa realidade não mudou muito, fazendo que a sociedade brasileira continuasse a rejeitar e desrespeitar quem é pertencente das etnias originárias do Brasil.
Até hoje nas escolas não se aprende sobre a verdadeira história indígena, não valoriza-se a contribuição desses povos para nossa cultura, e o pior, grande parte da população se empenha na segregação e não na integração dos povos.
A verdade é: nem em aulas, nem na TV ou em qualquer mídia os indígenas são retratados como cidadãos assim como os descendentes de qualquer outro povo. E essa ideia de não pertencimento desses povos indígenas reflete em suas vidas com a falta de oportunidades de trabalho, ofensas e outras formas de preconceito que ocorrem diariamente.
A rejeição do restante da população é tão grande que é possível encontrar inúmeros casos de espancamentos ou mortes motivados apenas pelo ódio à essas pessoas.
Para justificar os olhares de estranhamento, a rejeição e o descontentamento sobre a existência de indígenas nas cidades, muitas pessoas tentam argumentar que essa realidade ocasiona a perda da cultura desses povos. Mas é claro que essa é apenas uma visão errada e preconceituosa. Quer saber por que? Nós te explicamos!
A mudança de indígenas para a área urbana é perda de cultura?
Não! As cidades são locais indígenas tanto quanto qualquer outro espaço. Isso porque quem pertence a essas populações são cidadãos brasileiros e têm direito a viver no endereço que desejar. Além disso, uma simples mudança de CEP não faz alguém perder sua ancestralidade, seus conhecimentos sobre seu povo ou deixar de pertencer a sua etnia.
A perda de cultura é o processo de esquecimento (ou apagamento) de traços culturais de uma determinada etnia para dar lugar a pensamentos “modernos” e massificados. Como se o indivíduo perdesse sua identidade por conta de uma mudança de espaço onde vive ou de alguns hábitos.
Essa ideia de perda de cultura parte do pressuposto que para ser um “verdadeiro indígena” precisa estar morando afastado, na mata, quase como um personagem folclórico.
Considerando essa definição, já de cara podemos ver que as pessoas que utilizam esse conceito para argumentar contra a existência de indígenas nas cidades, possuem uma ideia estereotipada do que realmente é ser descendentes das etnias originais do Brasil.
Essa é uma ideia ultrapassada e completamente equivocada. Pessoas indígenas comem, dormem, têm relacionamentos interpessoais, estudam e trabalham assim como restante da população. Além disso, os cidadãos das mais diversas etnias perpetuam os conhecimentos, costumes e tradições independente de onde estejam.
E já que estamos falando de conceitos errados que algumas pessoas têm, vale ressaltar que para ser um “verdadeiro indígena” também não é necessário que eles vivam uma vida sem produtos tecnológicos, afinal, não existe ligação entre sua identidade e ter ou não um celular. Esse pensamento é apenas mais uma forma de preconceito dentre as várias que os indígenas sofrem diariamente.
Indígenas em contexto urbano e a luta contra os preconceitos
Você já deve ter ouvido alguém falar com tom pejorativo sobre os indígenas que estão na cidade. Esse é um grande problema que essas pessoas enfrentam quando deixam de esconder seus elementos culturais, como roupas, pinturas e arte. No entanto, os olhares tortos e comentários preconceituosos são as menores agressões diárias que esses indivíduos precisam enfrentar.
Basta abrir o noticiário e pode encontrar inúmeras matérias de espancamentos e mortes motivadas exclusivamente pela descendência indígena na vítima. É por isso que todos os dias indígenas levantam suas vozes e mostram cada vez mais que todos os lugares são lugares indígenas.
Felizmente estamos em um momento onde está aumentando o acesso dessa população a recursos que por muitos anos lhe foram negados. Por conta disso, vemos escritores, líderes de movimentos, influenciadores que pertencem a diferentes povos falando sobre as necessidades e também sobre a riqueza de conhecimento que cada grupo possui.
Além de combater o preconceito e resistir contra medidas que desrespeitam as terras que pertencem a povos indígenas, essa luta diária dos indivíduos que vivem nas cidades e ostentam seus adereços, serve para levar mais pessoas a conhecerem a história indígena.
Essa resistência é importante para gerar interesse sobre a cultura tão diversificada das diferentes etnias, e abrir os olhos de quem não conhece as pautas, as dores e a arte desses povos. Mesmo que seja uma realidade ainda difícil, enfrentar as ideias já disseminadas e estar presente nos espaços urbanos, causa impactos na vida de milhares de cidadãos desses grupos.
Ainda assim devemos lembrar que esse combate não é dever apenas de quem descende de um dos povos originais do Brasil, e sim de toda a sociedade. Um bom primeiro passo é entender a forma certa de se referir à essa população, falamos sobre isso no post “Indío ou indígena? Aprenda usar o termo correto”.
Compreender questões dos indígenas nas cidades é apenas uma das diversas formas de contribuir com a causa. Participe de debates, consuma conteúdos feitos por quem faz parte dessa parte de nossa população, conheça produtos indígenas e, o mais importante, incentive seu círculo social a também saber mais sobre esses temas.
O blog da Assindi está sempre trazendo mais conteúdos sobre pautas indígenas e também sobre as artes feitas por quem é dos povos nativos. Já falamos sobre os objetos indígenas para decoração aqui em nossa página, não deixe de conferir! Nos vemos na próxima!